' Falta tanta coisa na minha janela como uma praia, falta tanta coisa na memória como o rosto dele*, falta tanto tempo no relógio quanto uma semana, sobra tanta falta de paciência que me desespero. Sobram tantas meias-verdades que guardo pra mim mesma*, sobram tantos medos que nem me protejo mais, sobra tanto espaço dentro do abraço, falta tanta coisa pra dizer que nunca consigo..

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Idas e Vindas;

Hoje uma mulher perguntou: 
Ique, qual o problema dos homens? 

Com 5 anos, chutei o pé da cama. Comecei a chorar. 
Meu tio gritou: “Para de chorar! Homem não chora” 
Fui para o quarto e, continuei a chorar. 

Com 13 anos, queria que a Ana Carolina gostasse de mim. 
Mas nessa idade, as meninas não se apaixonam por caras como eu. 
Que são jogados no chão ou com apelidos, tipo: “Garrafinha” 
Então sem saber o que fazer, escrevi a minha primeira carta de amor e, deixei dentro do caderno da Ana Carolina. 
No final da aula, vi a carta amassada dentro do lixo. 
Meu amigo disse: “Meninas não gostam dessas bobagens” 
Peguei a carta e fui para a casa. 

Continuei a escrever. 

Com 18 anos, fui a primeira vez para a balada. 
Meu amigo disse: “Vamos pegar uma cerveja.” 
Fui até o bar, pedi uma Coca-Cola. 
Seus amigos se afastam, começam a lhe dar nomes e, ficam com várias mulheres. 
Mulheres que eles não se lembram do rosto. 
Fiquei sozinho no canto da festa. Olhando para uma garota.
Meu amigo disse: “Vá buscar uma cerveja! Fique bêbado!” 
Fui até o bar. Pedi outra Coca-Cola. 
Na volta, parei ao lado da garota que estava olhando, e disse: “O seu sorriso e o jeito que você dança são lindos. Não quero atrapalhar a sua noite. Mas uma vez ou outra, você pode olhar pra mim e dar um sorriso?” 
Voltei para o canto da festa.
Nunca vou esquecer aquele olhar. Um olhar tão forte, que ninguém pode se meter no meio. Nunca vou esquecer aquele rosto ou, aquele sorriso quando tocava uma música que ela amava. Nem o cheiro daquele cabelo.
Nunca vou esquecer, às vezes que ela olhou e sorriu. 

Com 20 anos, entrei na universidade. 
Meu amigo disse: “Psicologia é curso de gay!” 
Nesse curso, amei uma mulher que me amou. Fiz amigos que hoje são meus irmãos.
Três anos depois larguei o curso.
Achei que nunca poderia ajudar alguém. 

Com 25 anos e sem dinheiro, comprei um anel sem brilho. 
Pedi minha namorada em casamento. 
Mesmo sendo o anel mais honesto e sincero, ela não aceitou. 
Meu amigo disse: “Mulher não gosta de pobre”

Guardei o anel. 

Com 26 anos, meu amigo disse: “Eu amo a minha namorada. Mas amo ser solteiro também. É foda pensar com 2 cabeças” 
Um mês depois. 
A namorada descobriu a traição. 
Ele ligou chorando: “Ique ela terminou. Não consigo viver sem ela. O que eu faço?” 
Respondi: “Não me leve a mal, mas por que você não pergunta para a sua outra cabeça?” 
Ele tentou voltar. Mas ela não quis. 

Ela sabe, que não é a cabeça que lida com o amor.
É o coração. 

Com 27 anos, fui ao cinema com uma garota. 
No final do filme, ela olhou pra mim e, sussurrou no meu ouvido: “É lindo um homem que chora” 
Depois do filme, a atuação dela na cama ganhou o Oscar. 

Com 30 anos, sai para uma festa. 
Fui até o bar. Uma mulher para ao meu lado e pergunta: “O que é isso no seu copo?” 
Respondi: “Dois dedos de Coca-Cola, uma pedra de gelo e uma fatia de limão” 
Ela sorriu e, meu coração acelerou. Ela não era a mais atraente da festa. Nem a mais bonita entre as amigas. Ela era, uma mulher que sorria. E aquele sorriso, me fez sentir, que todas as coisas ao redor não eram importantes. 

Com 31 anos, uma amiga disse: “Nunca ganhei uma joia” 
No outro dia, segurei a mão dela e, coloquei o anel mais honesto e sincero em seu dedo. 
Ela sorriu e disse: “Eu aceito” 

Com 33 anos, escrevi a segunda carta de amor. 
Entreguei para o meu pai. 
Ele começou a chorar, e perguntou: “Há quanto tempo se sente assim?” 
Respondi: “A minha vida inteira.” 
Mas isso é a minha história. 
Você não quer história, quer uma resposta. 

 O problema dos homens.
 É que alguns, seguem regras. 
 Outros, o coração.

("Raros", o coração)


- Ique Carvalho.

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